Goiânia, 29/03/24
Tribuna Livre Goiás
CIDADES · 24/10/2019

Economizar na manutenção predial pode ser prenúncio de tragédia


Reprodução/Internet

Por Custódio Moraes

Mais uma fatalidade relacionada à Engenharia ocorreu no Brasil, dessa vez com o desabamento do Edifício Andrea, em Fortaleza (CE), causando mortes e vítimas. A tragédia é resultado de erros graves como imprudência, imperícia e negligência das partes envolvidas. Só neste ano, já foram dois desabamentos de prédios, além do desastre catastrófico de Brumadinho. 

Com o êxodo rural, as grandes cidades têm se expandido cada vez mais, havendo a necessidade da verticalização, ou seja, da construção de prédios em centros urbanos, para acomodação das famílias do interior. Essas pessoas foram para a zona urbana com a ideia de que a manutenção de uma “casa” fosse uma coisa simples, que não precisasse gastar muito dinheiro para reformas. 

Verdade é que os tempos evoluíram, mas esta cultura não. E ainda quando o(a) síndico(a) vem com uma proposta de reforma, alguns dizem: “deixa isso para depois ou contrata outra empresa mais barata”, digo isso com propriedade e experiência de quem foi síndico de um condomínio em Goiânia, com 300 apartamentos. 

O tempo vai passando e os problemas vão se agravando. Vale ressaltar que o síndico é responsável civil e criminalmente por todo o condomínio, incluindo-se os cuidados com a edificação, fundamentais para a segurança e para manter o patrimônio de todos condôminos. 

Estruturas de concreto armado geralmente são feitas com tempo previsto de vida útil de 50 anos, porém devem ser feitas as manutenções preventivas, como exemplo, o tratamento de trincas e fissuras, quando ocorrerem. Este prazo só é possível caso sejam feitas manutenções periódicas por profissionais capacitados, mas digo por profissionais legalmente habilitados, com expertise, e não qualquer profissional.

O custo com a manutenção preventiva é sempre menor do que a corretiva. No caso específico do edifício de Fortaleza, percebe-se claramente nas fotos e vídeos divulgados, a falta de cuidados preventivos com as armaduras expostas em processo de oxidação, além da retirada de concreto nos pilares de forma imprudente, sem escoramento necessário, gerando a perca da capacidade estrutural dos mesmos e a ruína do edifício. 

Após a entrega de um empreendimento, a prática de manutenções é primordial para amenizar os efeitos ambientais da corrosão das armaduras, entre outros. Além da análise técnica de um engenheiro civil, é necessária a avaliação de mais profissionais, como do engenheiro mecânico para a conservação dos elevadores, do Corpo de Bombeiros para vistoriar as conformidades em relação as instalações de incêndio, entre outros. 

Mas afinal, para que toda essa preocupação se o meu prédio nunca apresentou “nenhuma rachadura”? Todos estamos vendo o que vêm acontecendo no Brasil. Os edifícios estão ficando velhos, e os devidos cuidado e manutenções cada vez mais deixados de lado. 

A inspeção predial é o check-up do condomínio. Por exemplo, você não costuma fazer exames de rotina no médico? O edifício é da mesma forma, ele tem sua vida útil. É preciso cuidar das nossas moradias, averiguando a situação do imóvel e direcioná-la para as ações de manutenção, caso necessário.

O aconselhável é que para construções de até 15 anos, seja feita uma inspeção completa a cada 2 anos, com um perito no assunto. Só uma análise de um engenheiro determinará a urgência da situação, mas primeiro deve-se procurar um perito especializado para apresentar a solução técnica correta e não de empresas com sugestões para realizar a obra, pois poderão apresentar soluções diferentes para economizar e talvez a solução mais barata “votada” em Assembleia não seja a necessária de fato. 

Portanto, lembre-se sempre: inspeção predial e manutenção preventiva são prioridades e devem ser feitos por profissionais com expertise e formação no assunto. Não dá para economizar nesta hora. Prevenir é sempre um bom negócio!

*Custódio Moraes é engenheiro civil, especialista em infraestrutura, consultor independente, proprietário da Domus Engenharia e fundador da Startup CustoEnge.



Tags: manutenção predial fiscalização engenharia cuidados