AGRONEGÓCIO · 08/06/2025
Um Ato Agro corajoso

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Imagem gerada por Ai
Por Lilian Dias
Por Lilian Dias
Esses dias, conversava com um grupo de pecuaristas sobre algo que nem sempre é fácil de abordar: a conduta de uma parcela de profissionais do Agro que reage mal quando são apontadas falhas internas do nosso próprio setor. E digo “nosso” porque estou nele há mais de 20 anos — com orgulho, respeito e compromisso.
Sabemos que a maioria absoluta dos produtores é séria, comprometida e segue as boas práticas. Mas não podemos negar: há uma minoria que, infelizmente, mancha a imagem de todos nós. E justamente por sermos protagonistas de um setor que representa quase um quarto do PIB brasileiro, temos a responsabilidade de reconhecer, enfrentar e corrigir essas distorções.
Não se trata de perfeição — mas de sermos os primeiros a mostrar que temos critérios, ética e limites. Quando nos calamos diante de práticas como grilagem, uso de mão de obra análoga à escravidão, desmatamento ilegal, pulverizações irresponsáveis próximas a comunidades, entre outros abusos, passamos um recado perigoso: o de que estamos dispostos a proteger até o que não deveria ser protegido.
A pergunta que precisamos nos fazer é:
“Que tipo de Agro queremos representar?”
O que ignora o que está errado para manter uma boa aparência momentânea, ou o que enfrenta a verdade com maturidade para preservar sua reputação no longo prazo?
Nos calarmos diante do que nos envergonha pode, com o tempo, comprometer a imagem de todo o setor. O verdadeiro orgulho de ser Agro nasce justamente da coragem de evoluir, de abrir espaço para o diálogo, e de ser parte ativa na solução.
Durante essa conversa, um pecuarista chamado Antonio Carvalho trouxe um depoimento emocionante. Um relato honesto, que toca profundamente por sua autenticidade. Um verdadeiro exemplo de um ato AgroCorajoso. Compartilho aqui na íntegra, exatamente como ele escreveu, com destaque para as letras maiúsculas que ele mesmo usou para chamar nossa atenção:
“Prezados, ainda sobre meio ambiente, fui criador de suínos por 24 anos (de 1984 a 2007), e ainda sou um apaixonado, e defendo a atividade e o sabor e valor da carne suína, desprezada por alguns e criticada por outros profissionais da nutrição. Pois saibam que, além de ser a de maior consumo entre as carnes vermelhas, é melhor inclusive que a de aves. Isso só para dizer que eu fui um suinocultor, mas, por IGNORAR, fui um poluidor (junto com uns 25 criadores do Rio de Janeiro) dos córregos e rios. Jogava todo o esgoto de uma criação de até 50 porcas (multiplique por 10 o número de animais). Depois fomos intimados a “limpar” nossos dejetos, antes de jogar no rio. E todos nós passamos a aproveitar todos os resíduos da suinocultura. Resumo: o conhecimento salva. Jogávamos fora um dos produtos de maior valor (“ouro” puro) da criação de suínos. Por ignorância ou burrice (não é simples trabalhar com dejetos), deixamos de recuperar e adubar, áreas enormes, por muitos anos. PIOR, todas as propriedades rio abaixo tinham que “engolir” e “pagar” por minha ignorância. Hoje, a cadeia da suinocultura faz muito dinheiro com seus dejetos e faz questão de tratar com respeito tanto seus vizinhos, quanto sua equipe que normalmente é de excelente qualidade, necessariamente. Para ter um colaborador que seja responsável, preparado tecnicamente e que saia do trabalho todos os dias com cheiro de esterco de suínos, temos que pagar bem e tratar com muito respeito. Não é um limpa-bosta, mas é sempre uma equipe maravilhosa, que supera qualquer desafio".
Esse relato vai ao encontro de tudo o que acredito: reconhecer erros não nos diminui. Pelo contrário — nos engrandece. Nos diferencia.
É justamente esse tipo de postura que fortalece a credibilidade do Agro e mostra à sociedade que temos princípios, que somos líderes conscientes e dispostos a evoluir.
A fala do senhor Antonio é mais do que um depoimento. É uma lição. E é com esse espírito que devemos nos posicionar, não contra o Agro — mas a favor de um Agro cada vez mais admirado, respeitado e confiável. Devemos nos orgulhar e seguir o exemplo de agropecuaristas como o senhor Antonio Carvalho.
Lilian Dias é empresária, jornalista, radialista, atriz e palestrante. Comunica o Agro há 20 anos, promove capacitação e auxilia profissionais e empresários a se posicionarem no setor. Instagram: @liliandias.agro.
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