Goiânia, 16/06/24
Tribuna Livre Goiás
BRASIL · 30/11/2019

Goiás, o coração do Brasil

A Procissão do Fogaréu é uma das muitas manifestações culturais goianas que acontece na antiga capital de Goiás há mais de 260 anos


Reprodução/Internet

Por Mirian Barbosa

Goiás está situado no coração do Brasil e essa geolocalização foi um dos principais fatores a contribuir para a criação da sua identidade cultural.

Do marcante puxado do "r", os entoados nas orações ao Divino, a harmonia da viola sertaneja, o barulho da roda de fiar, ao som dos teares manuais, aos poemas de Cora Coralina. Entre lendas, festas, músicas, danças, culinária e costumes, foi se tecendo, como se tece no tear, os conhecimentos trazido pelos indígenas, negros e portugueses, e ajuntados como numa colcha de retalhos pedaços por pedaços, assim foi construindo o caminho da cultura Goiana.

Em todos os municípios goianos pulsa um pouco da história dos povos, que deu origem a essa cultura rica e diversificada. E se tratando da culinária goiana, podemos destacar os pratos típicos, como a galinhada com pequi e guariroba, o empadão goiano e os diversos sabores dos frutos do cerrado. Um sincretismo não apenas religioso, mas de tradições, ritmos das quais originaram legítimas manifestações da cultura goiana.

As tradicionais Cavalhadas de Santa Cruz de Goiás, é uma das festas mais antigas do estado e chegou com a influência dos jesuítas, que retrata em uma encenação dramática a luta dos mouros e cristãos. Dentre os municípios goianos que preservaram essa manifestação cultural destacamos, Pirenópolis, Palmeiras, Posse, Jaraguá, Crixás, Hidrolina, São Francisco, Santa Terezinha, Corumbá e Pilar.

A Festa do Divino Pai Eterno, em Trindade, é uma das mais importantes do Estado e reúne, todos os anos, Romeiros fiéis de todo o Brasil, e até de outros países para celebrar a representação da Santíssima Trindade coroando a Virgem Maria. A romaria teria começado em 1840, no arraial de Barro Preto, que deu lugar ao município. É importante ressaltar que a Romaria de Carros de Boi da Festa do Divino Pai Eterno de Trindade foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro, em 2016, e inscrita no Livro de Registro das Celebrações do Iphan.

Festa do Divino Espírito Santo: é a maior manifestação popular que acontece em Pirenópolis. Diversas religiões se cruzam no evento. Procissões religiosas, novenas, Congada, Catira, apresentações musicais e encenações fazem parte do festejo. A Dança faz parte desse acervo cultural. Alguns dos exemplos é a contradança, que resiste há 138 anos como manifestação folclórica de Santa Cruz de Goiás. A catira é uma dança rural, cantada e disposta em fileiras opostas. O nome teria origem tupi, mas a coreografia é um legado da cultura africana.

As tradicionais modinhas, violas e saraus, bem como na Orquestra dos Violeiros, pelo repertório raiz e sertanejo-romântico, na música clássica representada pela Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG) que foi premiada internacionalmente.  Já a congada ou congo teria vindo de Moçambique e é uma das atrações na Festa de Nossa Senhora do Rosário, em Catalão.

Dentre as manifestações culturais goianas está ainda a Procissão do Fogaréu que acontece na antiga capital do Estado há mais de 260 anos, por ocasião da Semana Santa. Com uma mistura de religiosidade e folclore, a perseguição a Jesus Cristo é marcada pelo tocar do Clarim por um farricoco no meio da noite, dando o sinal para os archotes procurar o Filho de Deus, representado por um estandarte, pintado pelo artista plástico Veiga Valle, no Século XIX.O ritual teria chegado ao Arraial de Sant’Anna no período da exploração do ouro pelos portugueses.

A cidade de Goiás respira tradição desde que foi fundada e pela suas ruas de pedra antiga guarda preciosidades que remontam ao período colonial. Diversos espaços culturais abertos ao público, como o Museu de Cora Coralina; Museu das Bandeiras; Museu de Arte Sacra da Igreja da Boa Morte; Museu do Palácio Conde dos Arcos; e Espaço Cultural Goiandira Ayres do Couto, bem como a casa da ponte - Museu Cora Coralina.

Foi ali, na Antiga Vila Boa onde nasceram alguns artistas que se destacaram a nível nacional e internacional. Entre eles, está escritora Cora Coralina, (1889-1985), poetisa vilaboense criadora de obras marcadas pela simplicidade; o artista plástico Siron Franco, a pianista Belkiss Spenzieri, Hugo de Carvalho Ramos (1895-1911) e José J. Veiga (1915-1999). Jamais esqueceremos Bernardo Élis (1915-1997), único goiano a ingressar na Academia Brasileira de Letras (concorreu com Juscelino Kubitschek). E entre tantos que adotaram Goiás como sua terra, não podemos deixar de destacar Semi Gidrão, nascido em Barretos, São Paulo, mas adotou a goianidade como seu estilo de vida. O jornalista escreveu seu primeiro livro aos 13 anos, intitulado “Enxadas, Machados e Foices, Presente de Casamento”.


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