POLÍTICA · 03/03/2020
A democracia sem a presença da mulher é democracia?
As mulheres representam mais de metade do eleitorado brasileiro e são minoria.

Reprodução redes sociais
Por Miriam Barbosa Padre Bernardo
Há uma distância entre o direito do voto, conquistado em 1932, e a participação efetiva da mulher na vida pública do País
A luta pelo direito feminino vem progredindo ao longo dos anos, e vários avanços têm sido consolidados. Com isso, a presença das mulheres no espaço público tem quebrado preconceitos e promovido mudanças nas relações domésticas e sociais. Mas, ainda assim, as mulheres representam menos da metade do eleitorado brasileiro e são minoria absoluta no Parlamento, no Executivo e no Judiciário, apesar do sistema de cotas previsto em lei. E a pergunta é: Diante desse contexto, podemos dizer que exercemos a plena democracia no País?
Entendemos que as mulheres têm uma importante contribuição a dar à política e também à gestão dos problemas da sociedade em todos os setores. É preciso valorizar e reconhecer o quão imprescindível é essa contribuição e abrir cada vez mais espaços de poder para as mulheres que, com sua sensibilidade e seu olhar, transformam seu cotidiano de lutas em resultados que transformam a vida em família e em sociedade.
Conquistas
Foi em 1932 que o voto feminino passou a ser reconhecido em nosso País, e consolidado pela Constituição de 1934. Foi Leolinda Daltro, fundadora do Partido Republicano Feminino, quem conseguiu que um senador apresentasse o primeiro projeto de lei, em 1919, em favor do sufrágio feminino. O senador Justo Chermont, autor da proposição, sofreu pressões que levaram ao adiamento da discussão do projeto.
Desde então, as mulheres vêm travando incansáveis batalhas para garantir o direito de ocupar espaços em condições igualitárias. Porém, no que se diz respeito à representatividade das mulheres na política, esse debate ainda se encontra muito distante do desejado. A lei assegura uma porcentagem mínima de 30% e máxima de 70% de participação das mulheres em qualquer processo eleitoral vigente (sistema de cota), no entanto, esse mecanismo tem contribuído muito pouco para melhorar a atuação e a chegada das mulheres aos cargos do governo.
Muitas das candidatas que se inscrevem na lista de cotas partidárias são mulheres que não têm interesse em pleitear um cargo político, estão ali para cumprir o coeficiente necessário que os partidos devem ter para serem considerados legais no processo eleitoral. Algumas nem chegam a fazer campanha política e por esse motivo não obtêm votos.
A distância entre o voto e a atuação política nos espaços decisórios se expressa na medida em que o apoio a candidaturas dos homens em relação a candidaturas das mulheres é distinto. Um dos fatores que pesam na balança é o monopólio masculino sobre a participação política nos partidos, pois, a grande maioria das direções das executivas partidárias é formada por homens, privilegiando quem já faz parte do jogo político-partidário, com base em critérios que deixam as mulheres em desvantagem.
Mas essa mulher, que quase sempre exerce dupla e até tripla jornada de tralhado, lida de perto com todas as questões sociais brasileiras. Conhece a fundo o que impacta a educação dos filhos, o orçamento do mês, os juros das compras a prazo, a saúde, a violência e o mercado de trabalho.
Tudo isso, claro, dificulta à mulher encontrar tempo para a vida pública. Mas, ver essa dificuldade como barreira e não perceber a capacidade e astúcia que a mulher tem para encontrar as soluções não faz avançar a democracia, porque a democracia sem a presença da mulher será tudo, menos democracia. E como dizia Bertolt Brecht, “Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la”.
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